Estou grávida, socorro!

Inicio um diário da minha gravidez. Um diário que poderá vir a ser útil a todas as futuras grávidas. Falo também de outros bebés que estão na minha vida. Sobrinha, filhos de amigas e amigos ou de conhecidas e conhecidos.

segunda-feira, outubro 18, 2004

O parto e as escolhas da mulher

Já li em vários lados sobre as "escolhas" da mulher quanto ao parto. Já me falaram das Doulas e tornei-me há uns meses assinante a Mailing List do "parto nosso". O discurso é sempre o mesmo: Estar contra o sistema, contra os médicos, contra os profissionais que nos assistem. Falar dos direitos da mulher que dá à luz, do direito de escolher o parto natural sem outras intervenções. Ao que parece o número de cesarianas no Brasil é escandaloso e as mulheres revoltam-se agora contra isso e querem ter o direito ao parto natural (sem episiotomias, sem epidural, apenas mãe e filho). A isto acrescenta-se a companhia de uma Doula que faz o papel de apaziguadora (um pouco como se de uma mãe se tratasse, para dar carinho e acalmar na hora das dores do parto).
A realidade portuguesa é diferente por isso não pude sentir-me identificada com o "parto nosso". Recebo os emails mas, na maioria das vezes, já apago sem ler. Não me identifico com aquela luta. Sim, concordo que as mulheres deveriam ter o direito de escolher como dar à luz. Eu gostava de ter exactamente o direito de escolha contrário. Gostava de ter o direito à cesariana. Esse é-me retirado por uma qualquer norma europeia que, em vez de pensar no conforto de quem dá à luz, pensa na economia. No nosso país é ver as mulheres em parto natural a qualquer custo. O bebé tem o percentil 95? e depois? vem de parto natural. O bebé tem mais de 4 quilos? e depois? vem de parto natural. Epidural nem sempre (e até desconfio que raramente). Episiotomia, sempre (e neste caso identifico-me com as brasileira, porque acho que essa é uma intervenção desnecessária na maioria das vezes).
Este ano duas pessoas minhas conhecidas deram à luz por cesariana (uma é a minha irmã), as duas dizem que foi a melhor forma. Ao fim de cerca de uma semana estavam totalmente recuperadas. Sem dores, sem mais nada. Outras tenho visto terem parto natural e ficarem com mazelas para o resto da vida. A recuperação que é bem mais lenta devido à episiotomia que lhes é feita e, sendo um corte no local onde é, muitas vezes infecta devido às fezes que estão ali tão perto, arde com os "xixis", e impede a mulher de fazer uma coisa tão simples como sentar-se, complicando assim o momento da amamentação. Isto, na melhor das hipóteses, se não houver complicações, dura 3 semanas. Além de se ver atrasado o regresso a uma vida sexual activa, muitas são as mulheres que passam a sofrer de disfunção sexual após o parto vaginal, pois o canal vaginal alarga, e outras vezes o próprio clitóris é afectado durante o parto natural (mas parece que este não é um argumento válido, quando falo nele olham-me como se fosse uma tarada sexual e criticam o facto de me preocupar com a minha satisfação sexual para o resto da minha vida).
Por isso quando ouço falar das "escolhas" e de quem anda por trás dessa "luta" pelas escolhas, o que apanho são sempre pessoas para quem só existe uma escolha: a do parto natural (sem episiotomia, sem epidural). Concordo na parte em que o respeito pela mãe deveria ser maior. Em que o tratamento dado nos hospitais deveria ser mais humano (ou humanizado). Colocando de parte a hipótese de me ser feita uma cesariana, é também com isso que mais me preocupo: com a forma com que me vão tratar. Tenho um medo terrível que me "tratem mal", no sentido humano da questão. Tenho medo de estar com dores, gritar e ainda ser "tratada abaixo de cão". Esse é, francamente, o meu maior medo naquela hora (os outros são relativos às consequências do parto natural). Já me falaram em pedir uma doula (como se elas estivessem disponíveis para todo o país), mas, para ser franca, só vejo utilidade na doula no caso da mulher não poder ter mais ninguém presente. Junto comigo, na hora do parto, mais do alguém capaz de me manter calma, preciso de alguém a quem eu ame e que me ame. Na minha vida só vejo quatro pessoas que reunem essas características: o Nelson, sendo ele sempre a primeira opção por estar mais envolvido do que qualquer outra pessoa nesta hora da minha vida, duas amigas minhas e a minha irmã. A minha mãe não porque desmaiava ao primeiro grito que eu desse ;).
Por isso não entendo quando sei que há quem opte por ter a doula presente em vez do pai da criança. Talvez esteja a exigir demasiado do Nelson (neste caso), mas acho que ele será capaz de me acalmar muito mais do que uma desconhecida (ainda que essa desconhecida seja treinada para aquela hora) e também sei que olhará muito mais pela Beatriz, e viverá muito mais o seu nascimento, do que alguém para quem a bebé se limite a ser isso mesmo: uma bebé (com tudo de amoroso que isso representa).
Por isso se eu pudesse escolher (e sei que vou ser muito criticada por estas palavras), escolheria sempre cesariana porque, pelo que ouvi, pelo que vivienciei e pelo que li, só vejo vantagens na mesma (e, infelizmente, eu sei muito bem o que são as dores pós-operatórias... acho que as de parto natural devem ser bem piores e as da recuperação da episiotomia não devem ser muito diferentes).