Estou grávida, socorro!

Inicio um diário da minha gravidez. Um diário que poderá vir a ser útil a todas as futuras grávidas. Falo também de outros bebés que estão na minha vida. Sobrinha, filhos de amigas e amigos ou de conhecidas e conhecidos.

domingo, novembro 07, 2004

Fora do "meu canto" - as desvantagens

Hoje (ontem) fui passear e lanchar com uma carrada de amigos. Muito provavelmente foi a última vez que eles viram a Beatriz dentro da barriga, para a próxima já estará cá fora.
Agora, e mais uma vez, não consigo dormir.
Comentam a Avena e a Quase Grávida nos seus blogs que gostam muito de estar no cantinho delas, que são um bicho do mato. Eu costumo designar-me como uma "gata selvagem" porque consigo ser muito meiga mas só aceito festas quando bem me apetece. Também não gosto nada de me sentir fora do meu cantinho. Não gosto de me sentir sem o "poder" sobre o espaço onde estou. Esse é o verdadeiro motivo pelo qual não consigo dormir. Ora bem, andei por aqui a dizer que era cansaço, "fartice" da barriga, dores e sei lá que mais. Mas o cansaço existe apenas porque não tenho dormido como deve ser, as dores da barriga são muito provocadas pelo facto de não conseguir arranjar posição, não por a barriga estar grande, mas por eu estar fora da minha cama. Noutra cama, com um colchão mais duro, com companhia e uma companhia extremamente barulhenta. Nos últimos dias o Nelson tem estado com um pouco de tosse e a garganta atacada. De modo que, como já aqui alguém escreveu em comentários, parece uma verdadeira traineira (e ele vai-me matar por estar a escrever isto). Normalmente ele já ressona, mas tem um ressonar mais leve. Um ressonar que, uma vez estando eu a dormir, não me acorda. Agora não. Agora acordo assustada e sobressaltada. Se me deito começo, de facto, a adormecer, porque tenho bastante sono e estou bastante cansada. Mas logo logo começo a acordar aos saltos por ser assustada. De modo que se torna impossível continuar a tentar dormir. Se o faço enervo-me demasiado, mas se não o faço quase dou em doida com o sono e a vontade de me ir deitar. Por vezes tenho vontade de lhe bater e dizer: não dormes! deixa-me dormir a mim (é essa a vontade que estou a ter agora, daí estar aqui a escrever tudo isto). É que eu adormeço com quase todos os tipos de sons, não significa que durma bem, mas adormeço e durmo. Adormeço com a televisão ligada, adormeço quando ele está ao computador... mas com este tipo de ressonar não é mesmo possível.
O que tem isto a ver com o facto de estar no meu canto? tem tudo. Tem porque eu, no meu canto posso fugir. Posso ir fazer outras coisas, posso ir dormir para o sofá, posso obrigá-lo a ir dormir para o sofá. Aqui não. Aqui só tenho uma saída: ficar no mesmo quarto, onde está este computador e uma televisão, e tentar entreter-me com esses dois objectos. De modo que me sinto presa e sem maneira de poder dormir. É desesperante. O pior é que ele não tem culpa e não posso obrigá-lo a não ressonar. Eu tento que ele mude de posição, às vezes funciona, mas nos últimos dois dias não tem adiantado nada. De modo que desisto de estar deitada e venho para aqui escrever ou jogar a qualquer coisa. Disso também me canso depressa e as opções vão-se. E passar uma noite em branco, a ouvir uma pessoa a ressonar bem alto, sem nada para fazer é, realmente, desesperante e esgotante.
Vim dizer tudo isto também porque houve alguém que fez um comentário do género: "estava a achar muito estranho que descrevesses a gravidez como uma maravilha, e agora vês como é". Ora, primeiro eu nunca disse que eram só rosas. Sempre falei dos incómodos da gravidez (até porque sofri uma ameaça de aborto no primeiro trimestre o que, como devem imaginar, é muito mau), simplesmente acho que não são assim tantos e os que são, são menores do que os incómodos de 9 meses com o período. Prefiro mil vezes uma gravidez, a 9 meses normais (com o período e tudo o que ele me provoca). Obviamente que a barriga agora pesa mais, mas eu sempre contei com isso, nunca disse o contrário, mas não acho que seja nada problemático. Gosto muito da minha barriga. Continuo a adorá-la. Mas, neste momento, apetecia-me mais ver a Beatriz do que olhar para a minha barriga.
Por isso vim esclarecer que o mal estar que tenho sentido não é tanto por estar grávida e sim por estar num local que não o meu canto, onde tenho as minhas opções e o "poder" sobre o local.
Claro que isto é um pouco diferente do que dizem a Avena e a Quase Grávida. Eu não evito estar com os amigos do Nelson, nem vir a casa dos pais dele. Mas, realmente, muito tempo fora do meu canto começa a deixar-me atrofiada por diversos motivos. Porque me sinto presa, porque me sinto pressionada, porque me sinto "vigiada", porque me sinto sem opções, porque me sinto sem o poder de fazer o que me apetece. Por exemplo agora, se estivesse em minha casa poderia, ou ir para o sofá, ou até agarrar no carro e ir dar uma volta. Mas e aqui? como posso eu sair de casa, agarrar no carro e ir dar uma volta? não posso, é impossível.
Com tudo isto a Beatriz sente a minha agitação (ou ouve o Nelson, não sei) e passa o tempo todo a mexer-se imenso.